quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Considerações sobre uma Velha Moradia estudantil


Em um Bairro Estudantil havia uma Velha Moradia: ampla, organizada, quartos pequenos, porém requintados, e moradores que compartilham de idéias bastante similares (o que não evita desentendimentos frequentes, como em qualquer agrupamento humano). Trata-se da moradia E. Quase todos os membros de moradias vizinhas ambicionam mudar para um dos confortáveis quartos da Velha Moradia; em decorrência disso, seus moradores passaram a adotar regras cada vez mais rígidas para evitar que eventuais visitas de final de semana acabem por se transformar em estada permanente.

Atualmente, algo incomoda os líderes dos quartos da Moradia E: o fascínio inspirado por outras moradias, em especial uma quase tão ampla e próspera quanto a Velha Moradia, porém dotada de influência muito maior no Bairro Estudantil. Trata-se da Moradia A. Essa foi organizada a partir de uma dissidência de E, contando, desde o início, com moradores imbuídos em um não-sei-o-quê místico, como se a eles coubessem revelar o verdadeiro sentido de compartilhar um mesmo espaço comum. Assim, a Moradia A pôde expandir-se de forma acelerada, valendo-se tanto de contradições internas de moradias limítrofes quanto, logo após, de conflitos de largas proporções entre os quartos da Velha Moradia. Essa expansão – que permitiu que a Moradia A pudesse se estabelecer em um imóvel ainda mais amplo e próspero do que o da Velha Moradia – teve, desde o início, regras bem estabelecidas, a partir de um regulamento definindo as garantias asseguradas a cada morador dos quartos, bem como os deveres e responsabilidades recíprocos entre os habitantes e seus respectivos quartos e a própria moradia. A construção e ampliação dos quartos de A demandou o auxílio de um multirão de vários ex-moradores da Velha Moradia, aos quais foi assegurada a possibilidade de estada no constructo.

Acreditando que a relativa centralização da Moradia A sob um regulamento comum foi a chave para sua prosperidade e influência (idéia ainda mais popular após conflitos interquartos que quase levou ao seu desaparecimento de toda a habitação), a Velha Moradia procurou criar uma maneira de possibilitar que decisões sobre elementos comuns importantes – por exemplo, como definir a quota de download da internet wi-fi da moradia a ser distribuída entre os quartos – fossem reguladas em bases claras e precisas, a partir de um procedimento de responsabilidades compartilhadas. Assim, sob direção dos quartos maiores, a Moradia E criou uma prática de estabelecimento de pequenos grupos de lideres de quartos para lidar com situações comuns aos quartos, sempre resguardando as peculiaridades dos moradores de cada unidade habitacional. Nesse contexto, foram criados, entre outros, auxílio financeiro aos quartos com moradores mais necessitados; padrão comum de respeito de cada quarto às liberdades de seus moradores; regras de manejo de lixo tóxico (como pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes) e maior mobilidade dos moradores da Velha Moradia entre os quartos (o que, cabe ressaltar, não ocorre em algumas moradias estudantis com excesso de moradores).

O estabelecimento de uma prática de decisões comuns na Velha Moradia foi se intensificando com o tempo, tendo sempre em mente o modelo de influência e, talvez, prosperidade da Moradia A. Avaliar (dentro de nossas modestas capacidades, é claro) como essa prática da Velha Moradia tem sido feliz em seus intentos será tarefa para a próxima terça-feira. Até lá!

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