domingo, 31 de janeiro de 2010

Só na matutagem...

Mas e num é que me pára um nego na minha frente e me diz: "fala aê o que que é matutagem!"

E acabou caindo no meu colo a tarefa de definir esta instância mística da mente humana para este blog.

Mas começar explicando a matutagem é embaçado, até mesmo porque será que matutagem tem começo?

Ela é um bicho estranho que não dá pra pegar pelo cauda e levantar feito um tatu e mostrar pra todo mundo. A matutagem não tem começo, meio ou fim... ela só é... matuta-se sempre in medias res (no meio do bagulho), quando a gente se toca, já tá matutando... maturar é um reflexo intelectual.

Parece sem pé, nem cabeça, mas é assim mesmo: a idéia aparece, senta num canto do seu cérebro e fica lá, te esperando, sem pressa, com muita paciência, pitando e enovoando o que está em volta, sem chamar a atenção, só esperando que você tome alguma atitude.

Matutar é um ato cognitvo zen, em que não se tenta pensar numa idéia e nem se evita pensar nela: a idéia apenas se desvela a si própria.

...

Como assim? É simples: tá lá um maluco, sentado de baixo de uma árvore, uma porra duma numa maçã cai, daí o cara se liga: "mano! e se tem uma força que puxa os bagulho pra baixo?!"... Ou estava outro debaixo de uma outra árvore, sentado com os olhos fechados e daí cai, não uma maçã, mas uma fixa: "meu! e se o mundo não existe e tudo não passar de uma ilusão?!"...

E sobre o que se matuta? Uai! Sobre o que se matutar!

A matutagem não tem objeto específico, pode ser sobre como dar um jeito na goteira da cozinha ou sobre a essência da vida humana... cada um matuta sobre o que lhe cabe... mas, acima de tudo, independente de objeto, a matutagem é o gesto primeiro, mas básico e mais puro, pois mais sincero e ingênuo, do pensamento humano. Sem as perfumarias, as firulas, das filosofias, das ciências e de outras formas de desgastar a mágica do mundo. A matutagem é a resposta subjetiva às necessidades principais que se impõem a uma pessoa. Por isso que a matutagem a própria essência e condição da existência humana. Sem a matutagem, a gente estava tudo na roça! Como viver sem saber se virar, sem o improviso, sem a intuição?

Pois matutar é, acima de tudo, uma questão de intuição, pois quem matuta, até que pouco sabe, mas muito desconfia. E é de desconfiança em desconfiança que se fia um universo todo. Uma rede cognitiva em que a gente pode deitar confortavelmente e assistir a vida passando, quase que muito certo de que a gente sabe até quem é...

Matuto, logo existo.

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Pelo menos é o que eu acho... mas não leve isso tudo que eu disse muito a sério, porque, no fim das contas, são só umas matutagens...

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