quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Algumas horas depois do habitual, mas cheguei. Encontrei, nesta semana, aquela entrada de “suicídio” no Índice Doutrinal de uma “Bíblia”, que procurava há semanas. Desta vez, este índice tem nome de “Dicionário Prático”. Ei-la, na íntegra:


“Suicídio. É o ato voluntário de pôr fim à própria a vida, feito com plena posse das faculdades mentais. O suicídio é pecado mortal porque só Deus é o Senhor absoluto da vida e da morte. Portanto, dispôr alguém da própria vida, é usurpar um direito exclusivo de Deus. Não se consideram suicidas aquêles que se mataram num momento de loucura, ou que morreram em conseqüência de algum feito com intenção diversa, embora reconhecesse antes seu risco, como por ex. o salvar uma pessoa que se afoga ou està num incêndio pode levar o salvador à morte, sem que seja considerado suicida. A morte de Sansão não foi suicídio, mas sòmente morte indireta de si mesmo, i.e., Sanção quis diretamente matar seus inimigos e só indiretamente permitiu sua própria morte, uma vez que esta devia resultar da mesma ação, pela qual matava seus adversários. Cf. Princípio de duplo efeito.

Só Deus, que é o Senhor da vida e da morte, pode permitir ao homem dispôr de sua própria vida. O exemplo de um ou outro santo que se tenha matado para salvaguardar a castidade ou por outro motivo costuma se explicar ou por uma inspiração, pela qual Deus lhe autorizou a ação ou por ignorância inculpável.”


Isto é: conduzir condutas. Antes fosse coisa de alguns. Antes não fosse esta, hoje, a tarefa precípua das escolas, da publicidade, da ciência etc.


Enfim, ao Sanção. Sua narrativa é belíssima e vale a pena ser lida inteira. Compõe, também, o livro dos “Juízes”. Após Deus tê-lo ajudado a se safar, algumas vezes, das armadilhas de sua esposa, Dalila, incitada pelos filisteus, raparam as sete tranças da cabeleira de Sansão e ele perdeu sua força.

Prenderam-no, furaram-lhe os olhos, levaram-no a Gaza.

Quando já estavam todos alegres, solicitaram que ele viesse dançar. Antes desta humilhação última, contudo, Sanção pediu a Deus as forças para se vingar. Seus cabelos já estavam crescendo novamente. Apalpou as duas colunas do templo de Gaza e afastou-as, o templo desabou, matando cerca de três mil filisteus, matando mais filisteus do que matara em toda sua vida (não foram poucos) além de matar a si mesmo.


Mais uma vez, vejo aqui exemplo de uma morte que se prefere à humilhação, a uma morte indigna. Não sei se Sanção tinha em mente que sua vida pertencia exclusivamente a Deus. Não está explícito na narrativa. Sabe-se lá qual é a narrativa, mesma e primeira. Não interessa muito qual é esta narrativa. E não interessa fazer exegese dela, para saber o que Sanção tinha em mente. Novamente, a nós só interessa a superfície.

E nos interessa que o suicídio possa ser, mais mesmo que escapatória de humilhação, uma morte heróica. Morte por um princípio. Morte gloriosa. Quem sabe, um vovô do que veio a se chamar, entre nós, kamikaze.

Um comentário:

biel madeira disse...

caraio, mano! gostei muito da lembrança dos kamikazes e ainda mais do "vovô dos kamikazes"!