segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Bicai-vos uns aos outros

Antes de mais nada, seria bom eu dar algumas palavrinhas antes de começar a crocitar. Geralmente, acho que se pode economizar muito tempo e dor-de-cabeça dando menos explicações e colocando mais em prática. Mas, de vez em quando, colocar uma legenda nas próprias atitudes ajuda a evitar ambiguidades, além de ser muito mais seguro do que deixar mil margens interpretativas em aberto.

O Conto-e-Vírgula não é um "grupo dos melhores", não é um "Dream Team", não é um "All Star Team" ou uma coletânea "The best of". Quando pensei em juntar cinco pessoas (sim, ainda falta um...) para montar um blógue, recusei logo de primeira o critério de "qualidade", até porque alimento sérias desconfianças quanto a esse tipo de julgamento. É de senso comum que só se pode julgar o que é bom ou ruim de acordo com determinados critérios estabelecidos e, de toda forma, esses critérios nunca são absolutos. Além disso, é sempre bom lembrar que não faz muito sentido julgar como melhor ou pior elementos de escalas e medidas diferentes - e a diferença, sim!, foi um critério decisivo na hora de determinar quem deveria ou não receber o e-mail de convite do blógue. E por conta disso, acabei tendo de preterir a contribuição de Biel Madeira, por maior que seja o contrassenso deixá-lo de fora (leiam o que ele escreve e vocês saberão do que estou dizendo). E ele não foi o único. O Rueiro Verde também deveria estar por aqui, mas ainda sei se ele ainda escreve ativamente. D.B. também era uma possibilidade - ainda em aberto - assim como J.G. Enfim, como em toda a escolha, o número de elementos excluídos é muito maior do que o de incluídos e o critério para a triagem se prendeu muito mais ao par homogeneidade/heterogeneidade do que bom/ruim.

***


Ele é talvez um dos mais conhecidos representantes da raça dos corvos-críticos na mídia nacional e dificilmente alguém não o contaria como um formador de opinião entre as classes mais esclarecidas. Eu mesmo, quando ainda era um corvo filhote, considerava-o como uma ave de rapina imbatível e de admiráveis presas afiadas. Mas o tempo passa e, seguindo um dos mandamentos dos corvos-críticos, vou agora atacar essa criatura que construiu sua imagem pública baseada no tom contundente de suas críticas. Para quem tiver um pouco de paciência e vontade de ouvir mais de uma vez as suas frases, vai notar que, na verdade, suas declarações não são lá tão consistentes como se imagina. Quem ouvir ou ler pela terceira vez o mesmo texto dele, verá que ele não faz nada mais do que cumprir o seu papel no chamado "jornalismo opinativo".



Certamente alguém pode justificar esse ramo do jornalismo, afirmando que é esse justamente o ponto que o distingue de outros estilos jornalísticos. Este é um argumento extremamente plausível, mas ainda não justifica o endeusamento de determinados elementos dessa espécie da fauna jornalística. Se o papel desse tipo de profissional é simplesmente publicar sua opinião para os leitores/telespectadores sem que pra isso seja necessário qualquer tipo de formação específica (ao contrário de outras editorias, como economia, política internacional, crítica artística, etc), então também reivindico meu direito de fazer o mesmo. Para criticar sem saber do que se está falando, não preciso recorrer a nomes de renome, eu mesmo posso fazer isso.

Na sua coluna na Rádio CBN intitulada "Os comunistas do governo Lula", Arnaldo Jabor mostra porque já está um corvo véio, caquético e decadente que tenta adiar sua morte midiática (não seria esse o caso de um midocídio?) catando migalhas que encontra aqui e ali. Com a recente polêmica sobre Plano Nacional de Direitos Humanos, comentada em todos os meios de comunicação, este velho corvo achou que era melhor não ficar calado e dar um pitaco sobre o assunto a partir do que ele andou lendo e ouvindo na grande mídia. Quem já ouviu o que ele disse ali, percebeu rapidinho que era melhor ele ter ficado de bico calado dessa vez. Nem é preciso ser corvo para notar a superficialidade dos pontos-de-vista de Jabor: qualquer macaco bem treinado percebe que Jabor não se deu o trabalho de pesquisar um pouquinho a mais sobre o tema de que fala.

Ok, Arnaldo Jabor não é um especialista em direitos humanos e, considerando o amplo leque de temas comentados por ele, seria realmente impossível ser especialista em todos eles. Isso ainda não livra a cara e o pau de nosso chute neste cara-de-pau. Posso estar errado mas, até onde eu saiba, Sírio Possenti também não é especialista em direitos humanos, mas procurou se informar um pouquinho melhor para evitar as grossas bobagens que Arnaldo Jabor apenas arremedou do que ouviu por aí.

Eu sinceramente fiquei em dúvida se Jabor realmente acredita que o PNDH foi elaborado pelos tais comunistas do governo Lula, ou se ele estava sendo irônico (como se sabe, a ironia é a figura de linguagem que expressa exatamente o oposto do que se quis dizer ...). A partir daí, só pude tirar duas conclusões: (1) Jabor ainda tem uma concepção meio "arcaica, ultrapassada, inútil e inoperante" sobre alguns conceitos como "esquerda", "social-democracia" e "comunista"; (2) Jabor não deve saber exatamente do que se tratam os "direitos humanos".

Tudo bem, eu aceito que ele talvez não tenha lá muita afeição por ideias políticas de esquerda. Mas não consigo entender como ele apurou o fato de que foram os comunistas que elaboraram o PNDH. Gostaria muito de saber, mesmo. Ao que parece, a cabeça de um velho é a dele, que ainda afirma com convicção no tom de voz um certo conspiracionismo comunista que sustenta qualquer coisa que não defenda o ideario conservador pasteurizado pela mídia tradicional. A considerar a firmeza de suas declarações, tenho a impressão de que Jabor se vale de uma riqueza de figuras retóricas que fazem o ouvinte imaginar pragas urbanas destruidoras para maquiar sua visão de política parca e ainda estacionada na guerra fria.

Não é só a imagem dos "roedores" e dos "ratos" que criam o efeito icônico que pretende iludir o ouvinte. Jabor também fala da "cabeça do governo" (claramente uma personificação), de "papelzinho escrito","papéis mofados", "cascas de banana" (sem contar a segunda personificação da "sociedade" escorregando...), "pequenas picadas", além dos trechos em discurso direto que visam, claramente, representar na mente do ouvinte uma cena absurda e causar o repúdio do ouvinte. É admirável a habilidade de Jabor de usar diversos recursos estilísticos que, no entanto, não conseguem mascarar sua visão rasa e excessivamente conservadora sobre a tal "liberdade de imprensa" e a lei da anistia.

Se assumirmos o ponto-de-vista colocado por ele, então tenho a impressão de que poderíamos deixar de lado todos os crimes de guerra praticados pelas tropas da SS, todos os assassinatos legalizados cometidos nos governos totalitários dos bálcãs e também aqueles praticados nas ditaduras da América Latina. Afinal, seguindo o raciocínio de Jabor, os militares já nem sabem mais o que foi isso e os generais já devem estar todos mortos.

Ainda continuando assim, acho que poderíamos também simplesmente ignorar o fato de que a cessão de direitos de transmissão de rádio e televisão é concedida pelo governo e, no entanto, ninguém considera isso como algum tip ode restrição da liberdade e da democracia. Também deveríamos, assim, "deixar a imprensa" em paz para abusar de seu infinito poder de infiltrar em milhares de casas e mentes sem qualquer espécie de regulamentação que vigie os possíveis absurdos que a mídia comete com frequência sem precisar da qualquer satisfação a ninguém. Mas acho que, nesse caso, a conivência de Jabor pode até ser justificada: se ele dá uma opinião que desagrada os seus patrões, talvez ele não chegue nem a publicar a coluna do dia seguinte...Corvo de rabo preso não pode dizer o que quer.

Na cabeça de Arnaldo Jabor, pode ser que os espectadores e ouvintes sejam dóceis ovelhinhas que ainda acreditam na enganosa divisão no jornalismo entre a "informação" e a "opinião". Quem parece estar enganado na verdade é ele. Enquanto houverem corvos no meio do público, vai ficar um pouquinho mais difícil para Jabor enfiar goela abaixo essa ração diária mal-preparada em forma de "coluna de opinião".

***

Ah, antes que eu me esqueça: Arnaldo Jabor, ainda estamos de olho em você.

2 comentários:

B.B.R. disse...

Sobre esse projeto, desprezado corvo, acho que toda a mídia leu errado, e como ele chega até nós só por ela, ficamos meio sem direção... Faltam corvos realmente críticos para que possamos ter uma opiniao... de verdade

biel madeira disse...

primeiro, sobre sua nota, querido corvo... como eu disse, não poderia mesmo aceitar este convite... (quem desdenha quer comprar) cheguei em casa e realmente percebi que minha presença seria totalmente desnecessária tendo em vista a presenção do tavão. agora, esclarecido isso, devo salientar que o jabor já estava na minha mira, não tão certeira qto a sua, há algum tempo! e que vc crocite muito mais ainda qualquer um q pense nos poder enganar!